Gabriela Mund
De onde vem o que eu acho que vem do outro?
Uma das descobertas que fiz bem cedo, e que muitas vezes ainda me pego caindo no erro, é a capacidade ou a incapacidade do outro de nos fazer mal. Num livro chamado Corpo Fechado do Robison Pinheiro, ele narra uma parte em que uma mulher, chega pedindo ajuda, dizendo que haviam feito “trabalho” contra ela, então o responsável pela casa de atendimento, diz a ela que aguarde uns minutos que ele já sabe quem está fazendo isso, e que já volta. Então sai da sala, pega um espelho e retorna. Pede que a mulher feche os olhos e posiciona o espelho na frente de seu rosto e em seguida pede que ela abra os olhos. No espelho está refletida a sua imagem, e ela se assusta. Pergunta então o que está acontecendo? E o responsável, com toda a calma do mundo explica àquela desesperada mulher, que tudo o que acontece em sua vida é resultado de suas escolhas, de suas decisões e de sua postura diante da vida e dos outros.
Bom, é mais fácil sempre culparmos o outro. É mais fácil, mais cômodo e muito mais conveniente jogarmos a culpa do nosso insucesso, da nossa tristeza, das nossas dores, nas costas do outro. Pensar que os outros estão “trabalhando” contra nós é uma maneira muito prática de resolvermos nossa responsabilidade por nossos atos. Bom, não deu certo por que o “fulano” não permitiu! Somos todos filhos do mesmo Pai, e me pergunto, que sentido existiria em o outro ter poder assim sobre mim. Me soa injusto...
Aqui nesse ponto cabe um parênteses, que na verdade não é um parênteses, deveria ser o negrito: se o outro fez algo contra mim, e de alguma forma me atingiu, é por que eu permiti. Permiti por conta de crenças limitantes, rótulos que me foram impostos, traumas e outras situações que não resolvi dentro de mim. Tudo o que resolvemos dentro de nós, fecha a porta para que o outro possa me atingir. Tudo o que prefiro deixar quietinho, no canto, porque dói mexer, se transforma automaticamente numa porta de entrada para que o outro possa invadir a minha casa.
Por exemplo: aos 10 anos de idade meus pais se separaram e não reagi bem a esse fato. Durante anos sofri com isso e na fase adulta, essa ferida não curada me traz insegurança em todos os relacionamentos. Bom, esse fato é um evento que acontece na vida de muitas pessoas, mas para quem não “resolveu” essa questão dentro de si, isso pode ser um problema, e se torna uma porta de entrada para que os outros lhe atinjam.
Mas, outra pessoa, com a mesma idade de 10 anos, viveu a mesma situação de separação dos pais, mas isso pra ela não gerou problemas. Usou a situação para enxergar a vida de outra forma, mais flexível e acreditando que tudo acontece para o melhor. Esse evento não gerou uma ferida e com isso não abriu nenhuma porta. Seus relacionamentos não sofrerão consequências decorrentes desse fato.
Então, tudo o que nos resta é buscar dentro de nós as portas abertas que deixamos. Precisamos compreender que tudo o que acontece em nossa vida é responsabilidade nossa, tanto as boas, quanto as ruins. Se alguém interfere na nossa caminhada, é por que de certa forma permitimos que esse processo aconteça, por meio daqueles fatos que mencionei acima: traumas, rótulos, crenças limitantes e situações não resolvidas.
Esse é um trabalho diário... tudo o que nos acontece serve para nos mostrar as nossas feridas para que possamos limpar, cuidar e curar. Tudo tem um propósito, nada acontece por acaso. Ninguém nem nada passa pelo nosso caminho sem ter uma razão. Cabe a mim, a você, a todos nós encararmos a vida como uma imensa sala de aula e buscar entender e resolver as situações que acontecem. Nem sempre isso será possível! Nem sempre será fácil! Mas um bom início é aceitar que você é dono do seu caminho e que o poder de gerir a sua vida é seu, desde que você não transfira a responsabilidade para o outro! Tome as rédeas da sua vida e comece a olhar com outros olhos! Em breve você começará a perceber um lindo mundo novo aparecendo na sua frente e a vida se transformará numa incrível jornada em busca de você mesmo!
Pare hoje mesmo de responsabilizar o outro pelo que lhe acontece. E se não deu para colocar isso em prática hoje? Comece amanhã de novo. Só não vale não tentar!
E sobre a imagem? O dia que formos transparentes conosco mesmos e não houverem mais “sombras” encobrindo as verdades da nossa alma, começaremos a encantar com a nossa beleza, e deixaremos de ser vistos por quem ainda quer nos machucar. A luz ofusca os olhos de quem gosta de escuridão!
Gabriela Mund
